Morte de fiel leva Testemunhas de Jeová à mira da PF

29/06/2025 11h24 - Atualizado há 1 mês

O advogado da família apontou que o homem trabalhou para o grupo, tendo ficado 10 dias à base de pão e água. MPF vê indícios de exploração

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Cedida ao Metrópoles

O grupo religioso Testemunhas de Jeová entrou na mira da Polícia Federal (PF) após o Ministério Público Federal (MPF) reabrir uma investigação para apurar a morte de Paulo Amaro Freire, de 53 anos, um membro da igreja, em Bataguassu (MS), que era diagnosticado com esquizofrenia.

Segundo a denúncia, os líderes da congregação se aproveitaram da condição do homem para praticar a exploração e o submeter a trabalho análogo à escravidão, culminando na morte do fiel.

Paulo Amaro Freire faleceu em dezembro de 2023. Segundo o denunciante, o advogado Enio Martins Murad, o homem era privado de alimentação adequada — sendo mantido a pão e água — submetido a cárcere privado e maus-tratos.

Ele teria atentado contra a própria vida logo após voltar à família. De acordo com o advogado, o homem estava tomado por perturbações decorrentes da exploração praticada por membros da “seita religiosa”.

A investigação da PF ocorre após o surgimento de novos indícios de crimes como trabalho análogo ao de escravo, violência psicológica, tráfico de pessoas e instigação ao suicídio, em diferentes regiões do Brasil.

“Há relatos sérios sobre o aproveitamento de indivíduos em condição de vulnerabilidade, sob a justificativa de serviço religioso, o que pode mascarar práticas criminosas”, escreveu o procurador da República, Marcelo José da Silva, ao determinar a remessa dos autos à Polícia Federal, que passa agora a conduzir as apurações.

Em despacho assinado no dia 23 de maio, o MPF afirma que “a narrativa apresenta detalhes que exigem investigação mais aprofundada”, e reconhece que os documentos enviados pela família de Paulo — entre eles, uma declaração pública, exames médicos, registros de denúncias anteriores e a própria certidão de óbito — apontam para uma possível violação generalizada de direitos fundamentais.

Letícia Guedes

METRÓPOLES